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Bastidores

Quando em Setembro de 2019 começámos esta reportagem, não poderíamos imaginar aquilo em que o mundo se transformaria. Hoje, com a economia congelada e os cenários mais optimistas a preverem uma das piores crises de sempre, faz ainda mais sentido contar as histórias de Guiomar, Rui, Alice e António. Homens e mulheres com uma vida de trabalho em cima, a quem o desemprego atirou para a margem.

“Perder o emprego e deixar de trabalhar de um dia para o outro significa um embate profundo em várias dimensões da vida social e pessoal. O desemprego afecta quase tudo: a condição socioeconómica e o bem-estar social, a organização e a qualidade do quotidiano, a estabilidade afectiva e emocional, o estado de saúde mental e físico. É como cair num buraco sem fundo, do qual dificilmente se consegue sair sem mazelas.”

O investigador Renato Miguel do Carmo apresentou com estas palavras o projecto “EmployALL – A crise do emprego e o Estado Social em Portugal” e convidou os Bagabaga Studios, que detém a Divergente, a contar histórias de vida que o reflectissem. Fizemos a selecção dos entrevistados, desenhámos a linha narrativa, imaginámos o website e expusemos alguns números importantes por detrás destas vidas. A reportagem teve um custo de 30 mil euros e foi parcialmente financiada com fundos da Fundação para a Ciência e a Tecnologia.

Recorrendo aos dados do Instituto de Emprego e Formação Profissional (IEFP) para Portugal, baseámo-nos no número de desempregados em Dezembro 2019 (310.482) e comparámo-lo com o registo de pessoas sem trabalho remunerado que não contam para esse cálculo (115.171) por estarem a frequentar programas de formação profissional; ou terem problemas de saúde que as impedem de aceitar um trabalho no imediato. Concluímos que, se estas últimas contassem, o desemprego registado seria 37% mais elevado.

Para dar rostos a estes números, acompanhámos o dia-a-dia de Guiomar, Rui, Alice e António, todos com mais de 55 anos. Um grupo particularmente vulnerável que representa 25% dos inscritos no Instituto de Emprego e Formação Profissional. Queixam-se de que o Estado os ignora, de que faltam medidas para as pessoas da sua idade.

No meio de um turbilhão como o que estamos a enfrentar, as histórias que aqui contamos acabam, quase sempre, submersas. Passam a ser invisíveis, apesar de convivermos com elas lado a lado todos os dias. Nesta reportagem, falamos de desemprego e de desigualdade, mas também do papel omnipresente que o trabalho ocupa na nossa sociedade e do vazio que fica quando o acesso a essa esfera nos é vedado.

Publicado na Divergente a 27 de Abril de 2020.

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